Ontem eu apenas procurava um endereço antigo em meio a umas cartas também antigas e encontrei o que não buscava. Um eu-mesma que ainda resta em mim nas cartas de um tempo em que a vida se abria como um presente no seu laço enorme de fita azul e papel de seda. Ver-se assim refletida no espelho do tempo me faz pensar no acúmulo de imagens que têm se sobreposto no caminho percorrido, nos inúmeros laços de fita que desatei e de
outros que apertei insuportavelmente. Ainda bem que essa que encontrei
nas cartas ainda sobrevive entre os escombros do tempo. É ela que me dá vida
nesta vida de tantos desencontros.
Um dia escrevo essa escrita de laços e de
nós. Porque há nós, um eu e você, no desatar e atar de estradas a céu aberto e
coração partido.
Foi ele, meu pai, que ensinou esta gaivota
a escrever com as asas na areia do tempo.